Poema de nº 20

quinta-feira, novembro 15



Existem escritores que nascem com um dom exarcebido de traduzir seus sentimos ao papel, canalizados por uma caneta. Agora existem escritores que nascem com o dom e vivem para assim saber da melhor forma traduzilos, canalizando dores e desejos universais em um só conjunto: o seu, do seus casos e acasos.

Um desses grandes foi Pablo Neruda. Chileno, escritor, político, revolucionário e um verdadeiro poeta que soube espremer ao extremo seus sentimentos e pensamentos nas devidas relutâncias da vida, sem perder a finalidade em transformar o leitor espectador no grande coadijuvante da sua poesia. Esse é uma de suas obras que me fez ver o que reinou em si, eternamente será a corte de qualquer inspiração a majestosas que encontramos [ou encontraremos] no decorrer de nossas vultuosas e reluzentes vidas.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo, a noite está estrelada e tiritam azuis os astros ao longe.
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a amei e às vezes ela também me amou,
em noites como esta eu a tive entre os meus braços,
beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela me amava, às vezes eu também a amei.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos?

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho, sentir que a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.

Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la?
A noite está estrelada e ela não está comigo – isso é tudo.
Ao longe, alguém canta. Ao longe.

Minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Como para aproximá-la, o meu olhar a procura,
meu coração a procura - e ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.

Nós os de então já não somos os mesmos.
Eu já não a amo, é verdade, mas quanto a amei.
Minha voz procurava o vento para tocar os seus ouvidos.
De outro. Será de outro. Como era antes, dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos.

Já não a amo, é verdade. Mas, talvez a ame.
É tão curto o amor e é tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
E minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Ainda que esta seja a última dor que ela me cause.
E sejam estes os últimos versos que lhe escrevo.

Aplausos.

"Anjo bom, anjo mau
Anjos existem
E são meus inimigos
E são amigos meus
E as fadas
As fadas também existem
São minhas namoradas
Me beijam pela manhã"

Cazuza - Azul e Amarelo

5 Tragadas:

Camila Passatuto disse...

Pq o grande lance de escrever é ser universal em suas palavras, mesmo q os sentimentos sejam os mais egoistas possiveis...

aplausos

rsrsrsrsr

Otávio B. disse...

O mais bonito neste poema é que o poeta quis justamente evitar o que era "moda" nos escritos da época, e compôs uma belíssima obra, triste e sensível, sem ser piegas.

Ótimo post, ótimo blog...Voltarei


Abraços

Tatiana C. Mendes disse...

É, de fato é um dom. Gosto muito de Pablo Neruda. Engraçado, ao ler este poema senti enorme afinidade... Por quê? De certa forma sou coadjuvante. Todos Somos. Alguns escritores sabem tocar, tocar com palavras, versos... Estes mesmos escritores sabem traduzir, através das mesmas, palavras, o que muitos espectadores sentem, e na maioria das vezes nem sabem expressar, e ao lerem o poema, sentem-se tocados no intimo... E isso realmente é um dom... Um belo dom! Este poema toca através da pluma de Pablo com maestria.

Belo blog.
Fico feliz que tenha gostado de um dos meus devaneios insanos.

Um abraço,
Tatiana

Unknown disse...

"É tão curto o amor e é tão longo o esquecimento"...porra que foda...to pra ler "O Rio Invisível" do Neruda faz uns meses, mas o post até me inspirou, assim que eu terminar minha leitura atual, vou ler o tal do Pablo Neruda que todo mundo idolatra...Post foda, abraço

blog disse...

Neruda tinha facilidade, sabia o pulo do gato para chegar ao leitor, principalmente àquele leitor que, por um motivo ou por outro, sentia-se isolado do amor.
Neruda afagava-o ao mesmo tempo em que questionava a solidão e o amor fiel.
O velho era danado.
Terminei de ler Para Nascer Naci. Não chega a ser um clássico da literatura ibero-americana, mas é muito bom.

Valeu.